quarta-feira, 16 de março de 2011

NEO-BARROCO (MICROENSAIOHÍBRIDO)


Além da ideia de excesso e ultraje, provável aproximação literária do grego húbris, ibrida - hoje, híbrida - já caiu nas graças de um monge de nome Gregor ao estudar petit-pois, palavra gastronômica, algo entre a textura de um Bispo do Rosário e Dorléac (para quem não sabe: Catherine Deneuve).
E assim recheada de sonoridades próprias das frescuras burguesas adotadas na modernidade, a ervilha-delírio-erógena tornou-se instrumento do que definiam como ciência, petit-pois para os letrados em línguas estrangeiras, devaneio preferido de confessos pós-doutores com seus neurônios de penitentes.
Mais para testículos que para sementes do monge, por aqui surgiu o Bispo com suas semeaduras de rotas e labirintos caóticos, erotismo-fiandeira de linhas e badulaques, mais para o pé-torno de um Aleijadinho, O Passado em Marienbad de Resnais e Grillet, a orelha perdida de Van Gogh ou um rei perdido no deserto.
A sífilis de Nietzsche, o sinistro de Serres e a irritação de Bachelard com Descartes foram ignorados pelo excesso, ultraje e, talvez, violência, que sexo oral era o sujeito vesgo de cama, e anjos deveriam esconder a nudez para não serem objeto de sexo solitário de fardados de negro.
E assim Acossados em Cidades e Império dos Sonhos, Calígula e Eros: Bergman, Wenders, Azu, Kurosawa...
Tupiniquins, além de Bispo: Lourdes Cançado, Clarice Lispector, Plínio Marcos, as Dulcinéias deambulantes, as dasdoidas, a Cooperifa, que devaneiam entre vulvas rapadas, peles tatuadas, batom nos grandes lábios, diante de um Sol vomitando ondas eletromagnéticas, Galliano e Kadhafi.
Tudo é mega, fim da modernidade insana, que Mamonas Assassinas é chuleio em Chapéu Mexicano, perfurações em abissais, geografia fantasma, deserto sem matéria, trajes neo-barrocos, pé-torto sem necrose da cabeça do fêmur.

Carlos Pessoa Rosa

(Carlos Pessoa Rosa publicou “Destinos de Vidro”, Contos, Ed. Meiotom, 1992; “A cor e a textura de uma folha de papel em branco”, prêmio CEPE/UBE, Editora CEPE, 1998; “Histórias que o povo conta, mas de meu jeito de contar” e “Sobre o nome dado”, Coletivo Dulcinéia Catadora, 2008; Prêmio Literatura para Todos, novela, 2010.)

2 comentários:

Lucia disse...

Felipe (usando e-mail Lúcia):

Estamos com problema de saúde na família, só agora abro e-mails, coloquei anteriormente a revista em link no www.meiotom.art.br, literatura, revistas. Autor falar de texto é algo esquisito, mas é assim que sinto esses movimentos todos. Foi meu objetivo, reforçar efeitos. No meio da tempestade, meu filho - Marcos L. Rosa é urbanista preocupado com a real brasileira - veio ao Brasil para lançar um livro, de levantamento feito na cidade de São Paulo: urbanismo e micro práticas criativas, que acho que vale a pena vocês erem, tem tudo a ver com o Brasil do futuro, ligado ao verdadeiro Brasil do passado (Oiticica, parangolé etc), chovam político e partidos é a prática coletiva, vindo do povo, algo ceifado em 64, que esses caras que se acham donos do país resolveram atuar de cima para baixo, a inspiração.

Carlos Pessoa Rosa
www.meiotom.art.br
meiotom@uol.com.br

Tânia Du Bois disse...

Caro Carlos, a inserção de autores em seu texto, ampliam sua complexidade e destacam as verdades com que cada um deles - em petit-pois - depuseram a verdade. Também por isso, o brilho. Abraços,
Tânia e Pedro Du Bois