quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Club Roma (parte final)


Voltamos para a mesa desenxabidos; ficamos por ali moscando, dois perdidos numa noite inútil. Ela, de saco na lua, eu, a magicar o que é que o Código Civil permite a nível de sacanagem com uma garota de menor; alternadamente giravam na minha cabeça três hipóteses: a) um curso avançado de anatomia em braile, b) uma gulosa, ou, c) uma bronhazinha inocente para descarregar as tensões. Embora no fundo soubesse que estava praticando a nobre arte do autoengano.
Como tudo que está ruim sempre pode piorar um pouco mais, a Vênus agora saracoteava à vera, bem na minha fuça; a dona tinha o tal de tufão nos quadris, fiquei imaginando a foda que ela devia dar. Aquilo devia deixar um cristão esfolado da silva santos. Uma semana curtido na arnica, chutando baixo. Tão embasbacado estava que nem me liguei quando a música parou.
Recobrei os sentidos quando a Pitchula se levantava para me apresentar a Vênus de Botticelli e o guarda-roupa que lhe fazia par.
― Este é o Artur...
― Boa noite. Sentem, por favor ― tentei fazer o boa-praça.
A loira aguada me mediu de alto a baixo com um risinho insolente pregado nos lábios; o brutamontes sequer nos dignou uma olhadela, permanecendo de costas para a mesa enquanto Pitchula me explicava que ele era o Campeão de PopRock.
Impressionante. O Campeão tinha um daqueles rostos esculpidos a marreta típico dos lutadores de vale-tudo; cada braço do sujeito, sem brincadeira, parecia uma coxa de bailarina do Faustão. Não é normal um camarada tão forte ser bom dançarino ― Tony Manero e Patrick Schwayze eram uns biafras perto dele.
Postas lado a lado, Pitchula e Vênus não deixavam margem nem dúvida: mãe e filha. “Minha amiga” o cacete! Pretextando ir tirar água do joelho, piquei a minha mula dali. No balcão do bar, surpresa: a Demi Moore cover tomando um mojito.
― E aí, belezura, você vem sempre aqui?
― Gatinho, esta é a pior cantada da noite, mas você está no seu dia de sorte: tô numas de curtir a rumbeira hoje. Vamos?
― Damas na frente ― afastei o banco para ela e o traseiro mais sublime daquele covil saiu rebolando só pra mim (e pra torcida do Corinthians). A banda atacou um bolerão mela-cueca. De rabo de olho ainda pude ver o bacanudo da risquinha, bebaço, levar um rola tentando sentar numa cadeira inexistente. Um comédia, como todos nós.

Lastima que seas ajena
y no pueda darte lo mejor que tengo
Lastima que llego tarde
y no tengo llave
para abrir tu cuerpo...

O globo de vidrilhos girava no teto espalhando um caleidoscópio de cores no lusco-fusco da pista de dança. E lá estava eu, apenas um rapaz latinoamericano vindo de Caieiras, o futuro grande escritor tentando salvar o dia com a ajuda das Meninas Super Poderosas. OK, a Demi Moore não era propriamente menina, mas, como Walter diria para Jack ― o Lemmon, não o Ripper ―: afinal, ninguém é perfeito...

2 comentários:

angela disse...

O humor foi afinando da primeira parte até chegar perfeito a última, não envergonhando o humor do filme que o inspira.

filipe com i disse...

tks compa, qto mais quente melhor é "o" clássico, bom ano!