sábado, 13 de novembro de 2010

ô disse eu

o fato é que estou cada vez mais desatento
cada vez mais bipolar
mais hipertenso
menos

conectado

a verdade é que não acredito
mais
na verdade
(desacreditei até do beijo francês)

não acredito mais em jornais
promessas de deuses
longínquos
ou vizinhos

só continuo vivo por esquecimento
acomodação
e uma praticidade mesquinha que me leva
a fazer sempre as mesmas
poesias

ao mesmo tempo em que acredito em tudo
(TUDO pode acontecer)
nada me apavora
mais

o fato é que não inventei a novidade
do milênio
permaneci quieto e resignado enquanto meu país
deixa
que homens e mulheres escrevam de uma maneira perfeitamente
controlada

as minhas palavras não funcionam
não são antenas da raça nem
antecipam
futuras gerações ou desenvolvimentos sociais
e técnicos

falta uma espécie de energia aquela
que sobra nesta época
desabrocham as gardênias
acres damas-da-noite
atenuadas pelas magnólias manjericos
e jasmins
__________________________________________
foto: Célia Mello (www.fotografiacontemporanea.com.br)

4 comentários:

lis disse...

Enquanto desabrochar magnólias, jasmins , damas da noite em algum jardim,há esperança.
O conformismo e a resignação sao frutos do desamor
quem sabe a poesia pode salvar-nos?
muito bom o "Ô disse eu" Prabéns missosso

Dalva M. Ferreira disse...

Efemeridade... ô medo! E no entanto estamos imersos nela.

Lídia Borges disse...

"(...)só continuo vivo por esquecimento
acomodação
e uma praticidade mesquinha que me leva
a fazer sempre as mesmas
poesias(...)"

Sabe que me identifico muito com estas palavras?


Um beijo

filipe com i disse...

tks, leitoras bom saber que há identidades e afinidades nessesestados da alma.