urge viver
inventar
minutos audaciosos
no encontro das esquinas
qualquer coisa pode acontecer
nestes idos
de argila e sangue
palavras breves são duras de
achar
a língua tropeça orelhas erram
temendo a primavera
formas gravadas
e descartadas
em tudo a mesma ausência
a chuva
a multidão
o amor ao torturador
cresce na tarde
como o cimento
a carroça atolada empurra o
cavalo para baixo
até que a pedra soletra um nome
designando ninguém
um alguém
abolido
línguas de fogo desenham teu rosto
sem base política
a rua é um campo de papoulas
infladas
infladas
demônios
peixes suicidas
ridículos e adoráveis
caçamos sombras saltitantes
de manhã ao meio dia
vozes tecem discursos que
confirmam
e deleitam
pois o touro vira bife e o amor
conveniência
é mais fácil morrer
do que crescer como os esquecidos
mas há palavras de ordem
janelas quebradas
lançando a canção livremente no
ar
e muitas e muitas
lantejoulas
Um comentário:
Os atos humanos contagiam outros humanos. Uma exclusão empurra outra. Resta o sonho de um mundo limpo. Muitas lantejolas para iluminar as faces dos esquecidos
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