quinta-feira, 5 de março de 2015

poeira de um volume morto




vem correr por caminhos selvagens nu como a floresta
suprimida
remoinhar com areia e pó quando a tormenta diz
bem vinda
alma não temas aqui somente espírito entre espíritos
e cinzas

mergulha no coração granítico inaudita cidade
e grita
eu rio eu mar eu pássaro eu céu porque sou
tal
quando nasci de chão e água e pedra
diamantina

vem ser rio e correr onde o meu coração
apodrece
viciado no ar sem ossos ocioso
deserto
poente de um velho vento
amarelo

eu quero respirar o mundo ver e saber como
os pássaros
aprender a música das ervas encontrar
a hora
turva cor de angústia

eu quero antes de tudo o mar a grande muralha
deitada
espírito líquido e lascivo de milhões de braços
enormidade
força gesto revolta destrutiva
e diluviana

a seca o pó a areia o horizonte deserto
o vazio
sempre foram máquinas de mística
memória
eu vi a chuva cair lentamente
e juro
murmurava
poeira
poeira
poeira


Um comentário:

angela disse...

A intensidade que transborda de seus poemas sempre me surpreendem.