Se eu tivesse
que arriscar uma hipótese ousada, diria que grande parte dos adultos não
ultrapassa algum estágio determinado da infância, e que, por este motivo, a
face da maturidade decalca invariavelmente uma caricatura da meninice. É como
se o homem feito fosse um filho eterno da criança que foi ― e nunca deixou de
ser. Ninguém cresce muito.
Tempos atrás, a
rapaziada da firma resolveu marcar a happy hour de sexta feira num puteiro.
Embora relutando por ser o chefe deles, acompanhei-os. A zona é a minha segunda
casa, modéstia às favas, manjo tudo da etiqueta do brega, posso dizer, sem me
achar a última bolacha do pacote, que conheço biblicamente a maioria das
meninas do meio, suas tretas e comédias. Fato: elas vêm de lares
desestruturados; mito: as que ficam na vida, gostam do rock and roll; fato:
beijam, sim, na boca; mito: gozam, de verdade e não; fato: fazem um bom pé de
meia, e se estabelecem; mito: cafetão já era, quase todas se autoempresariam.
Amor verdadeiro, se pintar, entra de sócio; dono, só do coração.
O puteiro é um
lugar perigoso para as almas juvenis. Seu ambiente de farsa feérica, o clima de
parque temático dos encontros furtivos, emana neblinas que inebriam os virgens no
mel da sedução feminina. Pois foi nesta visita que o Futuro Sogro, uma
lamentável figura que usava enchimento na cueca, conheceu a esposa. Enquanto o
infeliz não subiu ao altar, sofreu um calvário de chacotas dos colegas; uma vez
amarrado na cruz do matrimônio, porém, estava criado o impasse: ninguém se
atrevia a zoar um sacramento. O nascimento da filha do casal deu o mote.
― Aí moçada,
olha aí as fotos da minha princesa...
― Puxa,
parabéns, se tem um cara que merecia essa alegria era você...
― Como se
chama?
― Brenda. Que
foi... que silêncio é esse? Cês não gostaram do nome?...
― Bem, quer
dizer... é que, tu não deu só um nome pra tua filha, tu deu a ela uma
profissão!
― ... das mais
antigas...
Num dado
momento, tivemos de fazer uma escolha: ou permitir todos os apelidos, ou
proibir geral. O que é do homem, o bicho não come. Senão some. Não teve jeito.
No caso do meu sócio, a opção liberatória envolveu certas delicadezas: já era
público o seu hábito de freqüentar sessões de swing, como ele mesmo frisava, um
programa familiar, com a mulher, e coisa e tal. Até aí não havia
irregularidade, segue o jogo. O detalhe foi uma certa festa de fim de ano na
Nefertiti, famosa casa de sexo grupal.
― Escuta,
cara, sabe com é, a notícia vazou nas redes sociais...
― É... não
adianta esconder, o que aconteceu, aconteceu... Agora, nego por aí tem uma boca
mole do carai... ― e olhava em volta, procurando adivinhar a identidade do dedo
nervoso.
― Mas... ela,
ela tava lá com quem?...
― Com quem?!
Ora, com quem?, com o inútil do marido dela! É foda, o camarada não tem o
direito de ir com a patroa na casa de swing, sem ter que dar de cara com a mãe
e o padrasto?
― Pensa pelo lado
bom: sua mãe tá aproveitando bem a ajuda mensal que cê dá pra ela...
― Mamma Mia!
― Ah, cês tudo
vão ralar o cu nas pedras, nessa porra de empresa mais se fala que trabalha!
A escolha do
Supremo é um sufrágio à maneira germânico clássica: há apenas um grande eleitor,
o aniversariante do dia. Um verdadeiro mistério a popularidade de que desfruta.
O Supremo é simplesmente o cara que recebe a primeira fatia do bolo, nenhum
outro privilégio, nada de imunidade ao trote dos companheiros durante o seu
“reinado” ― que dura até ao próximo aniversário. Há um mandato extremamente
curto, quando dois fazem anos na mesma semana. Não obstante, cria-se um frenesi
em torno da escolha, com apostas a dinheiro, intensa especulação, palpites,
cotação dos top five, campanhas por determinados candidatos, etc.
No passado,
houve casos de fraude eleitoral, com compra de voto, jogo-de-comadres (eu te
escolho, você me escolhe), escolhas de protesto, ou de bajulação, e tudo mais
que faz parte do barro demasiado humano. A solução foi obrigar o eleitor a
justificar sua preferência proferindo um discurso, o qual é julgado no seu grau
de sinceridade. Uma escolha fracamente defendida, dá origem a um Supremo pouco
considerado.
Um comentário:
Oh céus!
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