e dizer que saí na rua de camisa
amarela
vi o Marquês de Sade apresentar a
Marquesa de Santos
ao dono das imagens
e acabei aqui
só
quieto palhaço da roupa branca
na tarde plana e o frio
beija venta na janela
escrevo numa tarde de junho em um
dialeto
de gelo escrevo frases que não
entendo
às vezes percebo a segunda vida
das coisas
a vida secreta e furtiva de tudo
que se vê
a segunda pele embaixo da pele
a carne fugitiva sob a pele
os ossos escondidos abaixo da
carne
o buco do osso que é pleno vazio
que horrível me parece a
realidade inteira
a pura aparência
eu apago a forma a fome de fama
minuto a minuto
apago os mapas do futuro que não
sei ler
porque eu vejo o que ainda não é
e percebo
a segunda vida do que é noturno
aquilo
que está por trás da realidade e
chamo a isto
a segunda máscara porém não tenho
com quem compartilhar percepções
nem esta roupa branca e olhar
vazio e o quarto
de dispensa e o eco distante de
uma mulher
numa tarde de junho como esta
mas em troca posso ser um ovo do
qual sairão
serpentes ou pombas
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