terça-feira, 3 de maio de 2011

Semelhanças


As pequenas gotas brilhavam nas grades do portão. Eram tão transparentes, tão puras como cristais pequenos. A luz do sol chegava ate elas, uma luz de fim de tarde de verão quando o calor e a claridade já não machucavam. Ficavam ali penduradas desafiando a gravidade.

Uma garoa fina e bem espaçada caia e refrescava ainda mais o dia. Sai andando aproveitando aquele tempo ameno e contornei o quarteirão. Acendi um cigarro (maldito vicio que pensei ter me livrado) e enquanto aproveitava meu pequeno intervalo vi uma mulher que me pareceu conhecida. Tinha o cabelo escuro, ondulado, farto e curto, a pele clara mais ou menos a mesma altura, peso e idade de uma amiga de trabalho perdida em algum volteio da vida. Chegando mais perto vi que não era ela e que deveria estar com a aparência diferente depois de tanto tempo.

Sempre acho estranho como vou encontrando “conhecidos” pelas ruas. É como se houvesse alguns padrões que se repetem e que com o tempo a gente esquece as particularidades. Ficam na memoria os traços gerais: o padrão. E é justamente esse esquecimento das particularidades que possibilita que eu imite as pequenas gotas desafiantes e por um segundo seja eu a desafiante das leis da natureza e reveja pessoas que já se foram e mate um pouco a saudades.

3 comentários:

filipe com i disse...

ah, isto é muito interessante: um novo caminho se abrindo na sua escrita, é como o nascimento de uma nova galáxia. Gosto muitodo tom despretensioso da conversa, um prosear fácil de nos levar. Põe no mirada, plis...

angela disse...

Até fico sem jeito amigo. Obrigada

Salete Cardozo Cochinsky disse...

Olá Angela
Um belo texto. Uma bela forma de manter na lembrança aqueles dos quais somos e temos um pouco.~
É a partir desse ver o outro que sabemos de nossa identidade.
Beijos