Chuck Berry, o inventor do rock and roll,
espetou um aguilhão de ouro
nos tomates putrefactos do racismo
Chuck Berry, com seu cabelo desfrisado,
seus pulinhos de gato
e seus acordes luminosos,
misturou no mesmo palco
e na mesma febre improvável
o que não se devia misturar
Chuck Berry, com seu orgulho negro
sem ressentimento nem arrogância,
gostava de comer
garotinhas branquinhas
curiosas e safadas
Chuck Berry, por conseguinte,
tinha de ser detido
para não continuar a espalhar
a loucura que havia inventado
Chuck Berry foi trocado
por um branquinho de patilhas espessas
e uma crista pedante na cabeça
chamado Elvis Presley
Post Oak Boulevard
Cruzamento de aço brilhante.
A abóbada azul do dia
desce vagarosa sobre os meus olhos,
como uma toalha desdobrando-se lentamente
sobre o tempo. Vagam os meus pensamentos,
como flocos de ar, entre
a alegria e a tristeza.
São complexos os humanos sentimentos:
por que razão insistimos
em reduzi-los a equações simples e miseráveis?
Por que exigimos, a todo o instante,
a comparência dos culpados,
para atirar-lhes à cara
tudo aquilo que temos medo de fazer?
Os pássaros alinhados em cima dos fios eléctricos
nada me dizem. Metáforas impossíveis,
parecem condenados, enrugados e cinzentos,
à espera do pelotão de fuzilamento,
sem saber que o mesmo não existe.
A minha mão está suspensa sobre
a alavanca perplexa,
sem saber o que fazer.
Oiço um coro de buzinas terríveis à minha volta,
mas na verdade ignoro
de onde provêem.
Um comentário:
que maravilha esta lusofonia da Revista Lowcultura, gostei muito das reflexões do João Melo!
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